terça-feira, 28 de setembro de 2010

PROFETAS REJEITADOS - Hyrum, o profeta rejeitado pelo povo


A chamada crise de sucessão iniciada com a morte de Joseph e Hyrum Smith em 1844 não foi a primeira grande polêmica sobre a hierarquia da Igreja e os papéis dos diferentes ofícios envolvidos. 

O ofício de Patriarca da Igreja, especialmente, foi objeto de um longo e complexo debate, que foi encerrado apenas em 1979, quando o último Patriarca da Igreja, Eldred G. Smith, foi feito autoridade geral emérita pelo presidente Kimball, extinguindo na prática o ofício.



Ao ler sobre os planos de Joseph a respeito de seu irmão Hyrum, aprendemos que ele deveria ter ocupado um lugar ainda maior na hierarquia SUD.


Em Nauvoo, Joseph tentou colocar seu irmão na posição de profeta da igreja, pois ele já Patriarca. Os planos de Joseph, porém, não puderam ser implementados, pois os membros não aceitariam a nova organização proposta. Assim, Joseph voltou atrás frente ao risco de mais uma cisão na Igreja. Como resultado, Hyrum nunca chegou a exercer publicamente seu papel de "profeta, vidente e revelador".


Em 27 de maio de 1843, Joseph Smith declarou:


O ofício patriarcal é o mais alto ofício na igreja e o pai Smith conferiu este ofício a Hyrum Smith, em seu leito de morte [1]


Joseph tinha em mente uma reforma na hierarquia da Igreja, como declarou publicamente em 16 de julho:


Disse que não profetizaria mais, e propus que Hyrum portasse o oficio de profeta para a Igreja, como era por direito de nascença. Irei fazer uma reforma e os santos devem considerar Hyrum, pois ele tem a autoridade, para que eu possa ser um Sacerdote do Deus Altíssimo. [2]


No dia seguinte, Joseph insiste no mesmo assunto durante seu sermão para os santos:


Disse que não profetizaria mais; que Hyrum deveria ser o profeta. [3]


Joseph passa então a considerar abertamente Hyrum como o profeta para a igreja. No dia 19 seguinte, ele encontra Hyrum na rua e pergunta:


Estou escrevendo aos irmãos, nosso novo profeta tem algo a dizer a eles? [4]


Embora não tenhamos grandes detalhes sobre o sentimento de Hyrum à época, parece óbvio que ele aceitava o chamado dado através de seu irmão e estava disposto a cumpri-lo.


A idéia de Joseph de que Hyrum deveria sucedê-lo (ainda em vida) no papel de profeta enquanto ele (Joseph) deveria ser "um sacerdote do Deus Altíssimo", só pode ser entendida no contexto vivido em Nauvoo, quando Joseph estabeleceu uma organização que passou a ser chamada de "Holy Order" ("Ordem Sagrada"), assim como o grupo conhecido como "Conselho dos 50".


Joseph provavelmente queria dedicar seus esforços a essas duas organizações, enquanto colocaria a igreja sob a direção de Hyrum. Notem que essa foi a escolha de Joseph, negando o "chamado divino".

A falta de compreensão dos membros, porém, impediu a reforma pretendida por Joseph:


Na segunda-feira passada, certos homens vieram me ver pela manhã e disseram: 'irmão Joseph, Hyrum não é um profeta, ele não pode dirigir a Igreja; você deve dirigí-la. E se renunciar, tudo dará errado; você nâo deve renunciar; se o fizer, a Igreja será dispersada.' Senti curiosidade e perguntei: 'Não aprendemos que o sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque compreende profetas, sacerdotes e reis? [Ver Apocalipse cap. 1, vers. 6]. E eu avançarei seu Profeta a Sacerdote, e então a Rei - não dos Reinos desta terra, mas do Deus Altíssimo'. [5]


Vendo o quanto lhe poderia ser cara a mudança pretendida, Joseph recuou e manteve a organização já conhecida.


Hyrum permaneceu então como Patriarca da Igreja (DeC 124:124), bem como "Presidente Assistente" de Joseph na primeira presidência (DeC 124:91), um ofício descontinuado após o assassinato de ambos.

Entretanto, Joseph tinha outros planos para Hyrum, caso o prórpio Joseph morresse antes:

"Será que Joseph Smith ordenou um homem para tomar seu lugar? Ele o fez. Quem era? Foi Hyrum, mas Hyrum caiu como um mártir antes de Joseph. Se Hyrum tivesse vivido, ele teria agido no lugar de Joseph" (Times and Seasons, 5 [ 15 de outubro de 1844]: 683).







NOTAS: citações originais em inglês.


[1]"The patriarchal office is the highest office in the church, and Father Smith conferred this office on Hyrum Smith, on his deathbed."( Minutes of a Meeting, held May 27, 1843, MS. in Church Historical Department, citado por Quinn, "Mormon Succession," p. 202)


[2]"Said I would not prophesy any more, and proposed Hyrum to hold the office of prophet to the Church, as it was by birthright. I am going to have a reformation, and the Saints must regard Hyrum, for he has the authority, that I might be a Priest of the Most High God." (History of the Church, 5:510)


[3] Said he would not prophesy any more; Hyrum should be the prophet (HC 5:512)


[4] I am writing to the brethren, has our new prophet anything to say to them? (idem, 5:513)


[5] Last Monday morning certain men came to me and said: "Brother Joseph, Hyrum is no prophet--he can't lead the church; you must lead the church. If you resign, all things will go wrong; you must not resign; if you do the church will be scattered." I felt curious and said: "Have we not learned the Priesthood after the order of Melchizedek, which includes both Prophets, Priests and Kings: see Rev. 1 Chap., 6th v., and I will advance your Prophet to a Priest, and then to a King--not to the Kingdoms of this earth, but of the Most High God. See Rev. 5 Chap., 10th v.--'Thou hast made us unto our God, Kings and Priests, and we shall reign on the earth.'" (Teachings of the Prophet Joseph Smith, p. 318)

Texto adaptado de Diário História SUD

domingo, 26 de setembro de 2010

Lógica & Falácias


Introdução


Há muito debate na Internet; infelizmente, grande parte dele possui péssima qualidade. O objetivo deste documento é explicar os fundamentos da argumentação lógica e possivelmente melhorar o nível dos debates em geral.


O Dicionário de Inglês conciso de Oxford (Concise Oxford English Dictionary) define lógica como “a ciência da argumentação, prova, reflexão ou inferência”. Ela lhe permitirá analisar um argumento ou raciocínio e deliberar sobre sua veracidade. A lógica não é um pressuposto para a argumentação, é claro; mas conhecendo-a, mesmo que superficialmente, torna-se mais fácil evidenciar argumentos inválidos.


Há muitos tipos de lógica, como a difusa e a construtiva; elas possuem diferentes regras, vantagens e desvantagens. Este documento discute apenas a Booleana simples, pois é largamente conhecida e de compreensão relativamente fácil. Quando indivíduos falam sobre algo ser “lógico”, geralmente se referem à lógica que será tratada aqui.

 

O que a lógica não é


Vale fazer alguns comentários sobre o que a lógica não é.


Primeiro: a lógica não é uma lei absoluta que governa o universo. Muitas pessoas, no passado, concluíram que se algo era logicamente impossível (dada a ciência da época), então seria literalmente impossível. Acreditava-se também que a geometria euclidiana era uma lei universal; afinal, era logicamente consistente. Mas sabemos que tais regras geométricas não são universais.


Segundo: a lógica não é um conjunto de regras que governa o comportamento humano. Pessoas podem possuir objetivos logicamente conflitantes. Por exemplo:
  • John quer falar com quem está no encargo.
  • A pessoa no encargo é Steve.
  • Logo, John quer falar com Steve.


Infelizmente, pode ser que John também deseje, por outros motivos, evitar contato com Steve, tornando seu objetivo conflitante. Isso significa que a resposta lógica nem sempre é viável.


Este documento apenas explica como utilizar a lógica; decidir se ela é a ferramenta correta para a situação fica por conta de cada um. Há outros métodos para comunicação, discussão e debate.

 

Argumentos


Um argumento é, segundo Monthy Phyton Sketch, “uma série concatenada de afirmações com o fim de estabelecer uma proposição definida”.


Existem vários tipos de argumento; iremos discutir os chamados dedutivos. Esses são geralmente vistos como os mais precisos e persuasivos, provando categoricamente suas conclusões; podem ser válidos ou inválidos.


Argumentos dedutivos possuem três estágios: premissas, inferência e conclusão. Entretanto, antes de discutir tais estágios detalhadamente, precisamos examinar os alicerces de um argumento dedutivo: proposições.

 

Proposições


Uma proposição é uma afirmação que pode ser verdadeira ou falsa. Ela é o significado da afirmação, não um arranjo preciso das palavras para transmitir esse significado.


Por exemplo, “Existe um número primo par maior que dois” é uma proposição (no caso, uma falsa). “Um número primo par maior que dois existe” é a mesma proposição expressa de modo diferente.

Infelizmente, é muito fácil mudar acidentalmente o significado das palavras apenas reorganizando-as. A dicção da proposição deve ser considerada como algo significante.


É possível utilizar a linguística formal para analisar e reformular uma afirmação sem alterar o significado; entretanto, este documento não pretende tratar de tal assunto.

 

Premissas


Argumentos dedutivos sempre requerem um certo número de “assunções-base”. São as chamadas premissas; é a partir delas que os argumentos são construídos; ou, dizendo de outro modo, são as razões para se aceitar o argumento. Entretanto, algo que é uma premissa no contexto de um argumento em particular, pode ser a conclusão de outro, por exemplo.


As premissas do argumento sempre devem ser explicitadas, esse é o princípio do audiatur et altera pars*. A omissão das premissas é comumente encarada como algo suspeito, e provavelmente reduzirá as chances de aceitação do argumento.


A apresentação das premissas de um argumento geralmente é precedida pelas palavras “Admitindo que…”, “Já que…”, “Obviamente se…” e “Porque…”. É imprescindível que seu oponente concorde com suas premissas antes de proceder com a argumentação.


Usar a palavra “obviamente” pode gerar desconfiança. Ela ocasionalmente faz algumas pessoas aceitarem afirmações falsas em vez de admitir que não entendem por que algo é “óbvio”. Não hesite em questionar afirmações supostamente “óbvias”.


* Expressão latina que significa “a parte contrária deve ser ouvida”.

 

Inferência


Umas vez que haja concordância sobre as premissas, o argumento procede passo a passo através do processo chamado inferência.

Na inferência, parte-se de uma ou mais proposições aceitas (premissas) para chegar a outras novas. Se a inferência for válida, a nova proposição também deve ser aceita. Posteriormente essa proposição poderá ser empregada em novas inferências.

Assim, inicialmente, apenas podemos inferir algo a partir das premissas do argumento; ao longo da argumentação, entretanto, o número de afirmações que podem ser utilizadas aumenta.

Há vários tipos de inferência válidos, mas também alguns inválidos, os quais serão analisados neste documento. O processo de inferência é comumente identificado pelas frases “consequentemente…” ou “isso implica que…”.

 

Conclusão


Finalmente se chegará a uma proposição que consiste na conclusão, ou seja, no que se está tentando provar. Ela é o resultado final do processo de inferência, e só pode ser classificada como conclusão no contexto de um argumento em particular.

A conclusão se respalda nas premissas e é inferida a partir delas. Esse é um processo sutil que merece explicação mais aprofundada.

 

A implicação em detalhes


Evidentemente, pode-se construir um argumento válido a partir de premissas verdadeiras, chegando a uma conclusão também verdadeira. Mas também é possível construir argumentos válidos a partir de premissas falsas, chegando a conclusões falsas.

O “pega” é que podemos partir de premissas falsas, proceder através de uma inferência válida, e chegar a uma conclusão verdadeira. Por exemplo:
  • Premissa: Todos peixes vivem no oceano.
  • Premissa: Lontras são peixes.
  • Conclusão: Logo, lontras vivem no oceano.

Há, no entanto, uma coisa que não pode ser feita: partir de premissas verdadeiras, inferir de modo correto, e chegar a uma conclusão falsa.

Podemos resumir esses resultados numa tabela de “regras de implicação”. O símbolo “ implica ” denota implicação; “A” é a premissa, “B” é a conclusão.

Regras de implicação
Premissa Conclusão Inferência
A B A implica B
Falsa Falsa Válida
Falsa Verdadeira Válida
Verdadeira Falsa Inválida
Verdadeira Verdadeira Válida

  • Se as premissas são falsas e a inferência válida, a conclusão pode ser verdadeira ou falsa (linhas 1 e 2).
  • Se a premissa é verdadeira e a conclusão falsa, a inferência é inválida (linha 3).
  • Se as premissas e inferência são válidas, a conclusão é verdadeira (linha 4).

Desse modo, o fato de um argumento ser válido não significa necessariamente que sua conclusão é verdadeira, pois pode ter partido de premissas falsas.


Um argumento válido que foi derivado de premissas verdadeiras é chamado “argumento consistente”. Esses obrigatoriamente chegam a conclusões verdadeiras.

 

Exemplo de argumento


A seguir está exemplificado um argumento válido, mas que pode ou não ser “consistente”.
  • 1 — Premissa: Todo evento tem uma causa.
  • 2 — Premissa: O Universo teve um começo.
  • 3 — Premissa: Começar envolve um evento.
  • 4 — Inferência: Isso implica que o começo do Universo envolveu um evento.
  • 5 — Inferência: Logo, o começo do Universo teve uma causa.
  • 6 — Conclusão: O Universo teve uma causa.

A proposição da linha 4 foi inferida das linhas 2 e 3. A linha 1, então, é usada em conjunto com proposição 4, para inferir uma nova proposição (linha 5). O resultado dessa inferência é reafirmado (numa forma levemente simplificada) como sendo a conclusão.

 

Reconhecendo argumentos


O reconhecimento de argumentos é mais difícil que das premissas ou conclusão. Muitas pessoas abarrotam textos de asserções sem sequer produzir algo que possa ser chamado argumento.

Algumas vezes os argumentos não seguem os padrões descritos acima. Por exemplo, alguém pode dizer quais são suas conclusões e depois justificá-las. Isso é válido, mas pode ser um pouco confuso.

Para piorar a situação, algumas afirmações parecem argumentos, mas não são. Por exemplo: “Se a Bíblia é verdadeira, Jesus ou foi um louco, um mentiroso, ou o Filho de Deus”.

Isso não é um argumento; é uma afirmação condicional. Não explicita as premissas necessárias para embasar as conclusões, sem mencionar que possui outras falhas *(Nota 1).

Um argumento não equivale a uma explicação. Suponha que, tentando provar que Albert Einstein acreditava em Deus, disséssemos: “Einstein afirmou que ‘Deus não joga dados’ porque cria em Deus”.

Isso pode parecer um argumento relevante, mas não é; trata-se de uma explicação da afirmação de Einstein. Para perceber isso, lembre-se que uma afirmação da forma “X porque Y” pode ser reescrita na forma “Y logo X”. O que resultaria em: “Einstein cria em Deus, por isso afirmou que ‘Deus não joga dados’”.


Agora fica claro que a afirmação, que parecia um argumento, está admitindo a conclusão que deveria estar provando.


Ademais, Einstein não cria num Deus pessoal preocupado com assuntos humanos *(Nota 2).

 

Leitura complementar


Esboçamos a estrutura de um argumento “consistente” dedutivo desde premissas até a conclusão; contudo, em última análise, a conclusão só pode ser tão persuasiva quanto as premissas utilizadas. A lógica em si não resolve o problema da verificação das premissas; para isso outra ferramenta é necessária.

O método de investigação preponderante é o científico. No entanto, a filosofia da ciência e o método científico são assuntos extremamente extensos e explicá-los está muito além das pretensões deste documento.

Recomenda-se a leitura de livros específicos sobre o assunto para uma compreensão mais abrangente.

 

Falácias


Há um certo número de “armadilhas” a serem evitadas quando se está construindo um argumento dedutivo; elas são conhecidas como falácias. Na linguagem do dia-a-dia, nós denominamos muitas crenças equivocadas como falácias, mas, na lógica, o termo possui significado mais específico: falácia é uma falha técnica que torna o argumento inconsistente ou inválido.


(Além da consistência do argumento, também se podem criticar as intenções por detrás da argumentação.)


Argumentos contentores de falácias são denominados falaciosos. Frequentemente parecem válidos e convincentes; às vezes, apenas uma análise pormenorizada é capaz de revelar a falha lógica.


A seguir está uma lista de algumas das falácias mais comuns e determinadas técnicas retóricas bastante utilizadas em debates. A intenção não foi criar uma lista exaustivamente grande, mas apenas ajuda-lo a reconhecer algumas das falácias mais comuns, evitando, assim, ser enganado por elas.

 

Acentuação / Ênfase


A falácia a Acentuação funciona através de uma mudança no significado. Neste caso, o significado é alterado enfatizando diferentes partes da afirmação. Por exemplo:


“Não devemos falar mal de nossos amigos”
“Não devemos falar mal de nossos amigos


Seja particularmente cauteloso com esse tipo de falácia na internet, onde é fácil interpretar mal o sentido do que está escrito.

 

Ad Hoc


Como mencionado acima, argumentar e explicar são coisas diferentes. Se estivermos interessados em demonstrar A, e B é oferecido como evidência, a afirmação “A porque B” é um argumento. Se estivermos tentando demonstrar a veracidade de B, então “A porque B” não é um argumento, mas uma explicação.


A falácia Ad Hoc é explicar um fato após ter ocorrido, mas sem que essa explicação seja aplicável a outras situações. Frequentemente a falácia Ad Hoc vem mascarada de argumento. Por exemplo, se admitirmos que Deus trata as pessoas igualmente, então esta seria uma explicação Ad Hoc:


“Eu fui curado de câncer”
“Agradeça a Deus, pois ele lhe curou”
“Então ele vai curar todas pessoas que têm câncer?”
“Hmm… talvez… os desígnios de Deus são misteriosos.”

 

Afirmação do Consequente


Essa falácia é um argumento na forma “A implica B, B é verdade, logo A é verdade”. Para entender por que isso é uma falácia, examine a tabela (acima) com as Regras de Implicação. Aqui está um exemplo:


“Se o universo tivesse sido criado por um ser sobrenatural, haveria ordem e organização em todo lugar. E nós vemos ordem, e não esporadicidade; então é óbvio que o universo teve um criador.”

Esse argumento é o contrario da Negação do Antecedente.

 

Anfibolia


A Anfibolia ocorre quando as premissas usadas num argumento são ambíguas devido a negligência ou imprecisão gramatical. Por exemplo:

“Premissa: A crença em Deus preenche um vazio muito necessário.”

 

Evidência Anedótica


Uma das falácias mais simples é dar crédito a uma Evidência Anedótica. Por exemplo:



“Há abundantes provas da existência de Deus; ele ainda faz milagres. Semana passada eu li sobre uma garota que estava morrendo de câncer, então sua família inteira foi para uma igreja e rezou, e ela foi curada.”


É bastante válido usar experiências pessoais como ilustração; contudo, essas anedotas não provam nada a ninguém. Um amigo seu pode dizer que encontrou Elvis Presley no supermercado, mas aqueles que não tiveram a mesma experiência exigirão mais do que o testemunho de seu amigo para serem convencidos.


Evidências Anedóticas podem parecer muito convincentes, especialmente queremos acreditar nelas.

 

Argumentum ad Antiquitatem


Essa é a falácia de afirmar que algo é verdadeiro ou bom só porque é antigo ou “sempre foi assim”. A falácia oposta é a Argumentum ad Novitatem.


“Cristãos acreditam em Jesus há milhares de anos. Se o Cristianismo não fosse verdadeiro, não teria perdurado tanto tempo”

 

Argumentum ad Baculum / Apelo à Força


Acontece quando alguém recorre à força (ou à ameaça) para tentar induzir outros a aceitarem uma conclusão. Essa falácia é frequentemente utilizada por políticos, e pode ser sumarizada na expressão “o poder define os direitos”. A ameaça não precisa vir diretamente da pessoa que argumenta. Por exemplo:


“…assim, há amplas provas da veracidade da Bíblia, e todos que não aceitarem essa verdade queimarão no Inferno.”
“…em todo caso, sei seu telefone e endereço; já mencionei que possuo licença para portar armas?”

 

Argumentum ad Crumenam


É a falácia de acreditar que dinheiro é o critério da verdade; que indivíduos ricos têm mais chances de estarem certos. Trata-se do oposto ao Argumentum ad Lazarum. Exemplo:


“A Microsoft é indubitavelmente superior; por que outro motivo Bill Gates seria tão rico?”

 

Argumentum ad Hominen


Argumentum ad Hominem literalmente significa “argumento direcionado ao homem”; há duas variedades.
A primeira é a falácia Argumentum ad Hominemabusiva: consiste em rejeitar uma afirmação e justificar a recusa criticando a pessoa que fez a afirmação. Por exemplo:

“Você diz que os ateus podem ser morais, mas descobri que você abandonou sua mulher e filhos.”

Isso é uma falácia porque a veracidade de uma asserção não depende das virtudes da pessoa que a propugna. Uma versão mais sutil do Argumentum ad Hominen é rejeitar uma proposição baseando-se no fato de ela também ser defendida por pessoas de caráter muito questionável. Por exemplo:

“Por isso nós deveríamos fechar a igreja? Hitler e Stálin concordariam com você.”

A segunda forma é tentar persuadir alguém a aceitar uma afirmação utilizando como referência as circunstâncias particulares da pessoa. Por exemplo:

“É perfeitamente aceitável matar animais para usar como alimento. Esperto que você não contrarie o que eu disse, pois parece bastante feliz em vestir seus sapatos de couro.”

Esta falácia é conhecida como Argumenutm ad Hominem circunstancial e também pode ser usada como uma desculpa para rejeitar uma conclusão. Por exemplo:

“É claro que a seu ver discriminação racial é absurda. Você é negro”

Essa forma em particular do Argumenutm ad Hominem, no qual você alega que alguém está defendendo uma conclusão por motivos egoístas, também é conhecida como “envenenar o poço”.

Não é sempre inválido referir-se às circunstâncias de quem que faz uma afirmação. Um indivíduo certamente perde credibilidade como testemunha se tiver fama de mentiroso ou traidor; entretanto, isso não prova a falsidade de seu testemunho, nem altera a consistência de quaisquer de seus argumentos lógicos.

 

Argumentum ad Ignorantiam


Argumentum ad Ignorantiam significa “argumento da ignorância”. A falácia consiste em afirmar que algo é verdade simplesmente porque não provaram o contrário; ou, de modo equivalente, quando for dito que algo é falso porque não provaram sua veracidade.

(Nota: admitir que algo é falso até provarem o contrário não é a mesma coisa que afirmar. Nas leis, por exemplo, os indivíduos são considerados inocentes até que se prove o contrário.)

Abaixo estão dois exemplos:

“Obviamente a Bíblia é verdadeira. Ninguém pode provar o contrário.”

“Certamente a telepatia e os outros fenômenos psíquicos não existem. Ninguém jamais foi capaz de prová-los.”

Na investigação científica, sabe-se que um evento pode produzir certas evidências de sua ocorrência, e que a ausência dessas evidências pode ser validamente utilizada para inferir que o evento não ocorreu. No entanto, não prova com certeza.

Por exemplo:

“Para que ocorresse um dilúvio como o descrito pela Bíblia seria necessário um enorme volume de água. A Terra não possui nem um décimo da quantidade necessária, mesmo levando em conta a que está congelada nos pólos. Logo, o dilúvio não ocorreu.”

Certamente é possível que algum processo desconhecido tenha removido a água. A ciência, entretanto, exigiria teorias plausíveis e passíveis de experimentação para aceitar que o fato tenha ocorrido.

Infelizmente, a história da ciência é cheia de predições lógicas que se mostraram equivocadas. Em 1893, a Real Academia de Ciências da Inglaterra foi persuadida por Sir Robert Ball de que a comunicação com o planeta Marte era fisicamente impossível, pois necessitaria de uma antena do tamanho da Irlanda, e seria impossível fazê-la funcionar.

Veja também Mudando o Ônus da Prova.

 

Argumentum ad Lazarum


É a falácia de assumir que alguém pobre é mais íntegro ou virtuoso que alguém rico. Essa falácia é apõe-se à Argumentum ad Crumenam. Por exemplo:

“É mais provável que os monges descubram o significado da vida, pois abdicaram das distrações que o dinheiro possibilita.”

 

Argumentum ad Logicam


Essa é uma “falácia da falácia”. Consiste em argumentar que uma proposição é falsa porque foi apresentada como a conclusão de um argumento falacioso. Lembre-se que um argumento falacioso pode chegar a conclusões verdadeiras.

“Pegue a fração 16/64. Agora, cancelando-se o seis de cima e o seis debaixo, chegamos a 1/4.”
“Espere um segundo! Você não pode cancelar o seis!”
“Ah, então você quer dizer que 16/64 não é 1/4?”

 

Argumentum ad Misericordiam


É o apelo à piedade, também conhecida como Súplica Especial. A falácia é cometida quando alguém apela à compaixão a fim de que aceitem sua conclusão. Por exemplo:

“Eu não assassinei meus pais com um machado! Por favor, não me acuse; você não vê que já estou sofrendo o bastante por ter me tornado um órfão?”

 

Argumentum ad Nauseam


Consistem em crer, equivocadamente, que algo é tanto mais verdade, ou tem mais chances de ser, quanto mais for repetido. Um Argumentum ad Nauseamé aquele que afirma algo repetitivamente até a exaustão.

 

Argumentum ad Novitatem


Esse é o oposto do Argumentum ad Antiquitatem; é a falácia de afirmar que algo é melhor ou mais verdadeiro simplesmente porque é novo ou mais recente que alguma outra coisa.

“BeOS é, de longe, um sistema operacional superior ao OpenStep, pois possui um design muito mais atual.”

 

Argumentum ad Numerum


Falácia relacionada ao Argumentum ad Populum. Consiste em afirmar que quanto mais pessoas concordam ou acreditam numa certa proposição, mais provavelmente ela estará correta. Por exemplo:

“A grande maioria dos habitantes deste país acredita que a punição capital é bastante eficiente na diminuição dos delitos. Negar isso em face de tantas evidências é ridículo.”

“Milhares de pessoas acreditam nos poderes das pirâmides; elas devem ter algo de especial.”

 

Argumentum ad Populum


Também conhecida como apelo ao povo. Comete-se essa falácia ao tentar conquistar a aceitação de uma proposição apelando a um grande número de pessoas. Esse tipo de falácia é comumente caracterizado por uma linguagem emotiva. Por exemplo:

“A pornografia deve ser banida. É uma violência contra as mulheres.”

“Por milhares de anos pessoas têm acreditado na Bíblia e Jesus, e essa crença teve um enorme impacto sobre suas vida. De que outra evidência você precisa para se convencer de que Jesus é o filho de Deus? Você está dizendo que todas elas são apenas estúpidas pessoas enganadas?”

 

Argumentum ad Verecundiam


O Apelo à Autoridade usa a admiração a uma pessoa famosa para tentar sustentar uma afirmação. Por exemplo:

“Isaac Newton foi um gênio e acreditava em Deus.”

Esse tipo de argumento não é sempre inválido; por exemplo, pode ser relevante fazer referência a um indivíduo famoso de um campo específico. Por exemplo, podemos distinguir facilmente entre:

“Hawking concluiu que os buracos negros geram radiação.”
“Penrose conclui que é impossível construir um computador inteligente.”

Hawking é um físico, então é razoável admitir que suas opiniões sobre os buracos negros são fundamentadas. Penrose é um matemático, então sua qualificação para falar sobre o assunto é bastante questionável.

 

Audiatur et Altera Pars


Frequentemente pessoas argumentam partir de assunções omitidas. O princípio do Audiatur et Altera Pars diz que todas premissas de um argumento devem ser explicitadas. Estritamente, a omissão das premissas não é uma falácia; entretanto, é comumente vista como algo suspeito.

 

Bifurcação


Preto e Branco” é outro nome dado a essa falácia. A Bifurcação ocorre se alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando na verdade existem ou podem existir outras. Por exemplo:

“Ou o homem foi criado, como diz a Bíblia, ou evoluiu casualmente de substâncias químicas inanimadas, como os cientistas dizem. Já que a segunda hipótese é incrivelmente improvável, então…”

 

Circulus in Demonstrando


Consiste em adotar como premissa uma conclusão à qual você está tentando chegar. Não raro, a proposição é reescrita para fazer com que tenha a aparência de um argumento válido. Por exemplo:

“Homossexuais não devem exercer cargos públicos. Ou seja, qualquer funcionário público que se revele um homossexual deve ser despedido. Por isso, eles farão qualquer coisa para esconder seu segredo, e assim ficarão totalmente sujeitos a chantagens. Consequentemente, não se deve permitir homossexuais em cargos públicos.”

Esse é um argumento completamente circular; a premissa e a conclusão são a mesma coisa. Um argumento como o acima foi realmente utilizado como um motivo para que todos os empregados homossexuais do Serviço Secreto Britânico fossem despedidos.

Infelizmente, argumentos circulares são surpreendentemente comuns. Após chegarmos a uma conclusão, é fácil que, acidentalmente, façamos asserções ao tentarmos explicar o raciocínio a alguém.

 

Questão Complexa / Falácia de Interrogação / Falácia da Pressuposição


É a forma interrogativa de pressupor uma resposta. Um exemplo clássico é a pergunta capciosa:

“Você parou de bater em sua esposa?”

A questão pressupõe uma resposta definida a outra questão que não chegou a ser feita. Esse truque é bastante usado por advogados durante o interrogatório, quando fazem perguntas do tipo:

“Onde você escondeu o dinheiro que roubou?”

Similarmente, políticos também usam perguntas capciosas como:

“Até quando será permitida a intromissão dos EUA em nossos assuntos?”
“O Chanceller planeja continuar essa privatização ruinosa por dois anos ou mais?”

Outra forma dessa falácia é pedir a explicação de algo falso ou que ainda não foi discutido.

 

Falácias de Composição


A Falácia de Composição é concluir que uma propriedade compartilhada por um número de elementos em particular, também é compartilhada por um conjunto desses elementos; ou que as propriedades de uma parte do objeto devem ser as mesmas nele inteiro. Exemplos:

“Essa bicicleta é feita inteiramente de componentes de baixa densidade, logo é muito leve.”
“Um carro utiliza menos petroquímicos e causa menos poluição que um ônibus. Logo, os carros causam menos dano ambiental que os ônibus.”

 

Acidente Invertido / Generalização Grosseira


Essa é o inverso da Falácia do Acidente. Ela ocorre quando se cria uma regra geral examinando apenas poucos casos específicos que não representam todos os possíveis casos. Por exemplo:

“Jim Bakker foi um Cristão pérfido; logo, todos os cristãos também são.”

 

Convertendo uma Condicional


A falácia é um argumento na forma “Se A então B, logo se B então A”.

“Se os padrões educacionais forem abaixados, a qualidade dos argumentos vistos na internet diminui. Então, se vermos o nível dos debates na internet piorar, saberemos que os padrões educacionais estão caindo.”

Essa falácia é similar à Afirmação do Consequente, mas escrita como uma afirmação condicional.

 

Cum Hoc Ergo Propter Hoc


Essa falácia é similar à Post Hoc Ergo Propter Hoc. Consiste em afirmar que devido a dois eventos terem ocorrido concomitantemente, eles possuem uma relação de causalidade. Isso é uma falácia porque ignora outro(s) fator(es) que pode(m) ser a(s) causa(s) do(s) evento(s).

“Os índices de analfabetismo têm aumentado constantemente desde o advento da televisão. Obviamente ela compromete o aprendizado”

Essa falácia é um caso especial da Non Causa Pro Causa.

 

Negação do Antecedente


Trata-se de um argumento na forma “A implica B, A é falso, logo B é falso”. A tabela com as Regras de Implicação explica por que isso é uma falácia.

(Nota: A Non Causa Pro Causa é diferente dessa falácia. A Negação do Antecedente possui a forma “A implica B, A é falso, logo B é falso”, onde A não implica B em absoluto. O problema não é que a implicação seja inválida, mas que a falsidade de A não nos permite deduzir qualquer coisa sobre B.)

“Se o Deus bíblico aparecesse para mim pessoalmente, isso certamente provaria que o cristianismo é verdade. Mas ele não o fez, ou seja, a Bíblia não passa de ficção.”

Esse é oposto da falácia Afirmação do Consequente.

 

Falácia do Acidente / Generalização Absoluta / Dicto Simpliciter


Uma Generalização Absoluta ocorre quando uma regra geral é aplicada a uma situação em particular, mas as características da situação tornam regra inaplicável. O erro ocorre quando se vai do geral do específico. Por exemplo:

“Cristãos não gostam de ateus. Você é um Cristão, logo não gosta de ateus.”

Essa falácia é muito comum entre pessoas que tentam decidir questões legais e morais aplicando regras gerais mecanicamente.

 

Falácia da Divisão


Oposta à Falácia de Composição, consiste em assumir que a propriedade de um elemento deve aplicar-se às suas partes; ou que uma propriedade de um conjunto de elementos é compartilhada por todos.

“Você estuda num colégio rico. Logo, você é rico.”
“Formigas podem destruir uma árvore. Logo, essa formiga também pode.”

 

Equivocação / Falácia de Quatro Termos


A Equivocação ocorre quando uma palavra-chave é utilizada com dois um ou mais significados no mesmo argumento. Por exemplo:

“João é destro jogando futebol. Logo, também deve ser destro em outros esportes, apesar de ser canhoto.”

Uma forma de evitar essa falácia é escolher cuidadosamente a terminologia antes de formular o argumento, isso evita que palavras como “destro” possam ter vários significados (como “que usa preferencialmente a mão direita” ou “hábil, rápido”).

 

Analogia Estendida


A falácia da Analogia Estendida ocorre, geralmente, quando alguma regra geral está sendo discutida. Um caso típico é assumir que a menção de duas situações diferentes, num argumento sobre uma regra geral, significa que tais afirmações são análogas.

A seguir está um exemplo retirado de um debate sobre a legislação anticriptográfica.

“Eu acredito que é errado opor-se à lei violando-a.”
“Essa posição é execrável: implica que você não apoiaria Martin Luther King.”
“Você está dizendo que a legislação sobre criptografia é tão importante quando a luta pela igualdade dos homens? Como ousa!”

 

Ignorantio Elenchi / Conclusão Irrelevante


A Ignorantio Elenchi consiste em afirmar que um argumento suporta uma conclusão em particular, quando na verdade não possuem qualquer relação lógica.

Por exemplo, um Cristão pode começar alegando que os ensinamentos do Cristianismo são indubitavelmente verdadeiros. Se após isso ele tentar justificar suas afirmações dizendo que tais ensinamentos são muito benéficos às pessoas que os seguem, não importa quão eloquente ou coerente seja sua argumentação, ela nunca vai provar a veracidade desses escritos.

Lamentavelmente, esse tipo de argumentação é quase sempre bem-sucedido, pois faz as pessoas enxergarem a suposta conclusão numa perspectiva mais benevolente.

 

Falácia da Lei Natural / Apelo à Natureza


O Apelo à Natureza é uma falácia comum em argumentos políticos. Uma versão consiste em estabelecer uma analogia entre uma conclusão em particular e algum aspecto do mundo natural, e então afirmar que tal conclusão é inevitável porque o mundo natural é similar:

“O mundo natural é caracterizado pela competição; animais lutam uns contra os outros pela posse de recursos naturais limitados. O capitalismo — luta pela posse de capital — é simplesmente um aspecto inevitável da natureza humana. É como o mundo funciona.”

Outra forma de Apelo à Natureza é argumentar que devido ao homem ser produto da natureza, deve se comportar como se ainda estivesse nela, pois do contrário estaria indo contra sua própria essência.

“Claro que o homossexualismo é inatural. Qual foi a última vez em que você viu animais do mesmo sexo copulando?”

 

Falácia “Nenhum Escocês de Verdade…”


Suponha que eu afirme “Nenhum escocês coloca açúcar em seu mingau”. Você contra-argumenta dizendo que seu amigo Angus gosta de açúcar no mingau. Então eu digo “Ah, sim, mas nenhum escocês de verdade coloca”.

Esse é o exemplo de uma mudança Ad Hoc sendo feita para defender uma afirmação, combinada com uma tentativa de mudar o significado original das palavras; essa pode ser chamada uma combinação de falácias.

 

Non Causa Pro Causa


A falácia Non Causa Pro Causa ocorre quando algo é tomado como causa de um evento, mas sem que a relação causal seja demonstrada. Por exemplo:

“Eu tomei uma aspirina e rezei para que Deus a fizesse funcionar; então minha dor de cabeça desapareceu. Certamente Deus foi quem a curou.”

Essa é conhecida como a falácia da Causalidade Fictícia. Duas variações da Non Causa Pro Causa são as falácias Cum Hoc Ergo Propter Hoc e Post Hoc Ergo Propter Hoc.

 

Non Sequitur


Non Sequitur é um argumento onde a conclusão deriva das premissas sem qualquer conexão lógica. Por exemplo:

“Já que os egípcios fizeram muitas escavações durante a construção das pirâmides, então certamente eram peritos em paleontologia.”

 

Pretitio Principii / Implorando a Pergunta


Ocorre quando as premissas são pelo menos tão questionáveis quanto as conclusões atingidas. Por exemplo:

“A Bíblia é a palavra de Deus. A palavra de Deus não pode ser questionada; a Bíblia diz que ela mesma é verdadeira. Logo, sua veracidade é uma certeza absoluta.”

Pretitio Principii é similar ao Circulus in Demonstrando, onde a conclusão é a própria premissa.

 

Plurium Interrogationum / Muitas Questões


Essa falácia ocorre quando alguém exige uma resposta simplista a uma questão complexa.

“Altos impostos impedem os negócios ou não? Sim ou não?”

 

Post Hoc Ergo Proter Hoc


A falácia Post Hoc Ergo Propter Hoc ocorre quando algo é admitido como causa de um evento meramente porque o antecedeu. Por exemplo:

“A União Soviética entrou em colapso após a instituição do ateísmo estatal; logo, o ateísmo deve ser evitado.”

Essa é outra versão da Falácia da Causalidade Fictícia.

 

Falácia “Olha o Avião”


Comete-se essa falácia quando alguém introduz material irrelevante à questão sendo discutida, fugindo do assunto e comprometendo a objetividade da conclusão.

“Você pode até dizer que a pena de morte é ineficiente no combate à criminalidade, mas e as vítimas? Como você acha que os pais se sentirão quando virem o assassino de seu filho vivendo às custas dos impostos que eles pagam? É justo que paguem pela comida do assassino de seu filho?”

 

Reificação


A Reificação ocorre quando um conceito abstrato é tratado como algo concreto.

“Você descreveu aquela pessoa como ‘maldosa’. Mas onde fica essa ‘maldade’? Dentro do cérebro? Cadê? Você não pode nem demonstrar o que diz, suas afirmações são infundadas.”

 

Mudando o Ônus da Prova


O ônus da prova sempre cabe à pessoa que afirma. Análoga ao Argumentum ad Ignorantiam, é a falácia de colocar o ônus da prova no indivíduo que nega ou questiona uma afirmação. O erro, obviamente, consiste em admitir que algo é verdade até que provem o contrário.

“Dizer que os alienígenas não estão controlando o mundo é fácil… eu quero que você prove.”

 

Declive Escorregadio


Consiste em dizer que a ocorrência de um evento acarretará consequências daninhas, mas sem apresentar provas para sustentar tal afirmação. Por exemplo:

“Se legalizarmos a maconha, então mais pessoas começarão a usar crack e heroína, e teríamos de legaliza-las também. Não levará muito tempo até que este país se transforme numa nação de viciados. Logo, não se deve legalizar a maconha.”

 

Espantalho


A falácia do Espantalho consiste em distorcer a posição de alguém para que possa ser atacada mais facilmente. O erro está no fato dela não lidar com os verdadeiros argumentos.

“Para ser ateu você precisa crer piamente na inexistência de Deus. Para convencer-se disso, é preciso vasculhar todo o Universo e todos os lugares onde Deus poderia estar. Já que obviamente você não fez isso, sua posição é indefensável.”

Uma vez por semana aparece alguém com esse argumento na Internet. Quem não consegue entender qual é a falha lógica deve ler a Introdução ao Ateísmo.

 

Tu Quoque


Essa é a famosa falácia “você também”. Ocorre quando se argumenta que uma ação é aceitável apenas porque seu oponente a fez. Por exemplo:

“Você está sendo agressivo em suas afirmações.”
“E daí? Você também.”


Isso é um ataque pessoal, sendo uma variante do caso Argumentum ad Hominem.


Falácia do Meio Não-distribuído / Falácia “A baseia-se em B” ou “…é um tipo de…”

É uma falha lógica que ocorre quando se tenta argumentar que certas coisas são, em algum aspecto, similares, mas não se consegue especificar qual. Exemplos:

“A história não se baseia na fé? Então a Bíblia também não poderia ser vista como história?”
“O islamismo baseia-se na fé, o cristianismo também. Então o islamismo não é uma forma de cristianismo?”
“Gatos são animais formados de compostos orgânicos; cachorros também. Então os cachorros não são apenas um tipo de gato?”

Nota 1
Jesus: Senhor, Mentiroso ou Lunático?
“Jesus existiu? Se não, então não há o que discutir. Mas se existiu, e se autodenominava ‘Senhor’, isso significa que: ele era o Senhor, um mentiroso, ou um lunático. É improvável que ele tenha sido um mentiroso, dado o código moral descrito na Bíblia; seu comportamento também não era o de um lunático; então certamente conclui-se que ele era o Senhor.”
Primeiramente, esse argumento admite tacitamente que Jesus existiu de fato. O que é, no mínimo, algo questionável. Ele possui uma falácia lógica que poderemos chamar “Trifurcação”, por analogia com a Bifurcação. É uma tentativa de restringir a três as possibilidades que, na verdade, são muitas mais.
Duas outras hipóteses:
— A Bíblia apresenta as palavras de Jesus de modo distorcido, pois ele nunca alegou ser o “Senhor”.
— As histórias sobre ele foram inventadas ou então misturadas com fantasia pelos primeiros cristãos.
Note que no Novo Testamento Jesus não diz ser Deus, apesar de em João 10:30 ele ter dito “Eu e meu pai somos um”. A alegação de que Jesus era Deus foi feita após sua morte pelos seus doze apóstolos.
Finalmente, a possibilidade de ele ter sido um “lunático” não é tão pequena. Mesmo hoje em dia há várias pessoas que conseguem convencer multidões de que são “o Senhor” ou “o verdadeiro profeta”. Em países mais supersticiosos, há literalmente centenas de supostos “messias”.
Nota 2
Einstein e “Deus não joga dados”
“Albert Einstein acreditava em Deus. Você se acha mais inteligente que ele?”
Einstein uma vez disse que “Deus não joga dados (com o Universo)”. Essa citação é comumente mencionada para mostrar que Einstein acreditava no Deus cristão. Mas nesse caso ela está fora de contexto, pois dizendo isso ele pretendia apenas recusar alguns aspectos mais populares da teoria quântica. Ademais, a religião de Einstein era o judaísmo, não o cristianismo.
Talvez essas citações de sua autoria possam deixar a ideia mais clara:
“Eu acredito no Deus de Spinoza que se revela através da harmonia do existente, não num Deus que se preocupa com o destino e vida dos seres humanos.”
“O que você leu sobre minas convicções religiosas é uma mentira, uma mentira que está sendo sistematicamente repetida. Eu não acredito em um Deus pessoal e nunca neguei isso, mas o afirmei claramente. Se há algo em mim que pode ser chamado religião, é a minha ilimitada admiração pela estrutura do mundo.”
“Eu não acredito na imortalidade do indivíduo, e considero a moral como algo que diz respeito somente aos homens, sem qualquer relação com uma autoridade supra-humana.”

Leonard Arrington


Podemos ler sobre a história de Leonard Arrington em sua auto-biografia “Adventures of a Church Historian”. 

Nesse livro, ele expõe alguns fatos:

•    foi apoiado durante uma Conferência Geral em 1972 como historiador da Igreja SUD

•    iniciou seu chamado sabendo que teria amplo acesso aos arquivos da Igreja e uma ilimitada revisão eclesiástica de suas publicações

•    abriu um Departamento Histórico, contratou historiadores e iniciou a escrever uma versão honesta da história da igreja.

•    infelizmente, com o tempo, os líderes da igreja ficaram desconfortáveis com sua forma  franca ao escrever sobre a história SUD. E não porque a história não fosse verdadeira, mas porque a liderança julgou que seus escritos não eram práticos ou úteis, pois desafiavam a fé das pessoas.

•    com o tempo, o acesso de Leonard Arrington aos arquivos da Igreja foram se tornando cada vez mais restritos e seus artigos começaram a passar pelo crivo eclesiástico dos apóstolos e outros líderes da Igreja SUD.

De fato, próximo ao fim de sua admnistração, apareceram um série de políticas impostas pelas Autoridades Gerais durante o exercício de Leonard Arrington:


•    Por intervenção direta de dois membros do quórum dos doze apóstolos, Eugene England e Lowell Bennion foram proibidos de publicarem através da ‘Deseret Books’ ou ‘Bookcraft’.

•    Carol Lynn Pearson, que escreveu o livro “Goodbye, I love you”, também entrou para a lista negra das publicações, até que ela fosse capaz de reverter sua postura.

•    Claudia Bushman e Scott Keanney não puderam publicar ou sequer serem mencionados na Igreja por causa de sua ligações com “Exponent II” e a revista “Sunstone”.

•    Vários intelectuais mórmons enviaram material para publicação usando pseudônimos, para que assim não fossem colocados na "lista negra". 


Todos os pontos acima estão no livro “Adventures of a Church historian”, p.154, de Leonard Arrington.
 
No início dos anos 70, estas histórias vieram à tona, e em 1982, o Departamento de História da Igreja SUD foi dissolvido e Leonard Arrington foi desobrigado como historiador da Igreja, em silêncio, fora de uma Conferência Geral.

Texto adaptado de Diário História SUD

Juanita Brooks


Juanita Brooks foi uma genial e impressionante mulher.  

Porém, voltemos um pouco na história antes de falarmos sobre ela. 

Há cerca de 150 anos atrás, em 11 de setembro de 1857, sobre o conhecido "Massacre de Montain Meadows":
 
  • 120 homens e crianças foram executadas a sangue-frio (tiros dados à queima-roupa. Alguns foram dados na cabeça ou na nuca.)

  • apenas 17 crianças, por estarem abaixo dos 8 anos de idade, foram poupadas. 

  • a Igreja SUD negou qualquer envolvimento mórmon por mais de 100 anos no massacre de ‘Moutain Meadows’ um tempo muito muito longo. 

  • A culpa do massacre foi atribuída, pela própria igreja SUD, aos índios Paiúte.

Os documentos da época mostram a reação da Igreja relativo ao massacre:

•    George Q. Cannon, então presidente da missão Califórnia respondeu aos relatos iniciais do envolvimento de mórmons acusando os jornalistas de escrever “calúnias imprudente e malignas” apesar de saberem que os mórmons do sul de Utah eram “tão inocentes... quanto um feto”.

•    O jornal ‘Deseret News’ foi inicialmente lento para comentar sobre o massacre, alguns meses o jornal negou qualquer envolvimento mórmon, então permaneceu em silêncio até 1869, quando ele voltou a negar envolvimento dos mórmons.

•    Em 1872, 15 anos após o evento, finalmente Brigham Young excomungou Lee e Haight pelo massacre (
fairlds.org) .

Mas estas são apenas as reações iniciais quanto ao massacre de ‘Mountain Meadows’. Para somar a estas reações, 20 anos após o massacre apenas John D. Lee (ao lado) foi condenado e executado, em 1877. 

O Presidente Brigham Young foi entrevistado por um repórter e disse que considerava o destino de Lee justo. Ele negou qualquer envolvimento pessoal, negou que a doutrina da expiação pelo sangue tivesse contribuído no massacre, porém reiterou sua crença nessa doutrina “e acredito que Lee não expiou por metade de seu grande crime

•    Ao final dos anos 50, o Presidente SUD
David O.Mackay criou um comitê presidido pelo apóstolo Delbert L. Stapley para investigar o massacre de ‘Mountain Meadows’. Este comitê recomendava que Mackay restaurasse a associação de John D.Lee. O presidente Mackay permitiu que um dos netos de John D.Lee fosse batizado em seu favor e então a Igreja restaurou à Lee a condição de associado da Igreja. (fairlds.org)

Como é possível observar, a própria Igreja, no final dos anos 50, reconheceu que havia utilizado John D.Lee como bode expiatório. Porém, a igreja SUD não quis tornar esta informação pública, pois contradizia as negações constantes e o distanciamento que eles afirmavam possuir do massacre. Seria algo muito embaraçoso!

Em 1940-50, uma mulher chamada Juanita Brooks, que era uma mórmon devota, começa a fazer pesquisas históricas e escreve um livro chamado  “Mountain Meadows Massacre”, onde faz um minucioso relato com detalhes históricos sobre o evento do massacre de Mountain Meadows. Neste livro, ela reconhece que:

•    mórmons e líderes mórmons locais estavam envolvidos no massacre

•    era injusto jogar a culpa pelo massacre nos índios

•    após o massacre, ocorreu uma grande operação de encobertar os fatos pelos próximos 20 anos na Igreja em todos os níveis para evitar julgamentos e perseguições.

•    John D.Lee foi injustamente utilizado como bode expiatório

•    Queria publicar o secreto, batismo póstumo de John D.Lee

 

As Reações da Igreja: Juanita Brooks foi...

•    ...marginalizada pelos membros locais e liderança

•    ...ameaçada de excomunhão pelo Elder Delbert Stapley

•    David O.Mackay negou o pedido de excomunhão dizendo “Deixem ela em paz
 

Porém, ela pagou um preço alto por apenas escrever história factual, direta e honesta. 

Avançando a história em cerca de 40 anos após sua publicação, vemos que a Igreja SUD na revista ‘Ensign’ de 2007 escreveu um artigo sobre o massacre de ‘Mountain Meadows’ onde eles reconhecem que:

•    mórmons e líderes mórmons locais estavam envolvidos

•    que era injusto jogar a culpa no índios

•    apenas John D.Lee foi utilizado como bode expiatório e pagou pelo massacre

E eles foram até mais adiante: em um comunicado à impressa, Elder Henry B.Eyring é citado dizendo:

Manifestamos profundo pesar pelo massacre realizado neste vale à 150 anos desta data, e pelos incontáveis e desnecessários sofrimentos passados pelas vítimas, e sucessivamente por seus descendentes até o tempo presente. "
A distinta expressão de pesar nós devemos aos índios Paiute, que injustamente suportaram a culpa principal por muito tempo pelo que ocorrido durante o massacre ", disse ele. "Embora a extensão do seu envolvimento é contestado, acredita-se que não teria acontecido sem a orientação e estímulo fornecido pelos líderes da igreja local e os membros." Élder Henry B. Eyrin, Apóstolo da Igreja SUD, 11 de setembro de 2007 - Anúncio da Igreja SUD por ocasião do 150º. Aniversário do Massacre de Mountain Meadows ocorrido em 11 de setembro de 1857

Infelizmente, nenhuma desculpa foi dada a Juanita Brooks por ela ter sido punida ao trazer o fruto de seus estudos à luz da verdade.
  
Jeffrey R.Holland, numa transcrição do ‘PBS’ – “The Mormons”, disse apenas:

[Juanita Brooks] provavelmente ajudou a Igreja a encarar algo que todos nós nunca desejássemos que tivesse acontecido” Jeffrey R.Holland, Apóstolo SUD, Transcrição do PBS – The Mormons,4 de Março de 2006

Basicamente, ela foi punida e marginalizada por dizer a verdade.

Numa publicação mórmon não-oficial intitulada ‘Sunstone Magazine’, o estudioso Levi Peterson é citado dizendo:

Em tudo isso, Juanita tornou-se algo maior do que simplesmente uma historiadora respeitável. Para vários mórmons que, cedo ou tarde, que aceitem a sua interpretação do massacre, ela tem servido como uma dramaturga e uma confessora. Ela confrontou-nos com fatos terríveis e decepcionantes, despertou-nos a tristeza eo arrependimento vicário, em seguida, levou-nos a compreensão e perdão aos nossos antepassados errantes. Igualmente importante, esta corajosa dona-de-casa tem inspirado e encorajado os não-conformistas e os protestantes de todas os tipos entre os mórmons. Inquestionavelmente, Juanita Brooks permanecerá famosa como um dos grandes campeões da liberdade de investigação e do debate aberto na história do mormonismo.”Levi Peterson, Sunstone Magazine, Issue 73

E o mais inspirador é talvez, como Juanita Brooks foi capaz de realizar este meticuloso trabalho de pesquisas históricas sendo mãe, dona-de-casa e professora. Claudia Bushman lembra que:


Ela sempre manteve a tábua de passar roupas aberta, e mantinha uma cesta de roupas sujas próximas a sua escrivaninha. Quando alguém se aproximava, ela começava a passar a roupa, então ninguém saberia o que ela estava escrevendo. Para completar, Juanita viajava de ônibus durante a noite para fazer suas pesquisas em Salt Lake City ou na Biblioteca de Huntington


Um grande sacrifício foi pago por esta mulher por divulgar a verdade, questionou os ensinamentos da Igreja SUD e sua liderança e sofreu grandemente por isto.

Texto adaptado de Diário História SUD